Na última segunda-feira (8), a chefe do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Dra. Maria van Kerkhove, classificou como “rara” a disseminação da covid-19 por pacientes assintomáticos. De acordo com pesquisadores, a fala da infectologista, que virou manchete em veículos de imprensa do Brasil e do mundo, está sendo mal interpretada pela comunidade não científica.
Crítica dos especialistas
Átila Iamarino, biólogo e doutor em microbiologia pela Universidade de São Paulo (USP), usou o seu perfil no Twitter para explicar a declaração da médica: “Maria van Kerkhove falou assintomáticos. Não deixou claro se isso também inclui pré-sintomáticos, quem não tem sintoma agora, mas vai ter depois. Esses desenvolvem grandes quantidades de vírus e podem transmitir, como vários estudos mostram”.
Na mesma rede social, Natalia Pasternak, bióloga e PhD com pós-doutorado em Microbiologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP, se manifestou sobre a descontextualização da fala. A especialista ainda ponderou que não há estudos divulgados que embasem a afirmação da líder técnica da OMS, que, em suas palavras, apenas trouxe “dados de relatos pontuais, mas não apresentou papers ou relatórios formais”.
Esclarecimento da OMS
Após a polêmica, horas depois, a Dra. Kerkhove também usou o Twitter para enfatizar as diferenças entre “verdadeiros” assintomáticos (identificados somente pelo teste laboratorial e que não apresentam sintomas da covid-19), pré-sintomáticos (infectados que estão no período de incubação do vírus e irão desenvolver os sintomas nos próximos dias) e moderadamente sintomáticos.
Além disso, a epidemiologista recomendou a leitura do guia da OMS publicado na sexta-feira (5) sobre o uso de máscaras. No documento, consta que “estudos mais abrangentes sobre a transmissão de indivíduos assintomáticos são difíceis de conduzir”, mas traz dados sobre um trabalho realizado na China. A pesquisa citada pela OMS aponta que, entre 63 indivíduos assintomáticos estudados no país, tinha evidências de que 9 (14%) infectaram outra pessoa.
No mesmo documento, a OMS alerta: “Os dados disponíveis até o momento, que tratam de casos de infecção em pessoas sem sintomas são decorrentes de um número limitado de estudos com pequenas amostras que estão sujeitas a revisões e não podem dizer se eles carregam a transmissão.”
Na terça-feira (9), a OMS fez uma transmissão ao vivo nas redes sociais. Na entrevista, Kerkhove voltou a se pronunciar sobre o assunto. “Acho que é um mal-entendido afirmar que uma transmissão assintomática globalmente é muito rara, sendo que eu estava me referindo a um subconjunto de estudos. Também me referi a alguns dados que ainda não foram publicados, e essas são as informações que recebemos de nossos Estados-Membros”, afirmou. Durante a transmissão, Michael Ryan, diretor de emergências da organização declarou categoricamente que “a transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo, a questão é saber quanto”.
Uso de máscara e isolamento social
Em entrevista à Globo News, Átila Iamarino classificou como essencial a manutenção dos cuidados de higiene e do isolamento social no combate ao novo coronavírus. “A recomendação deles de cuidado das pessoas e de distanciamento social continua sendo a mesma. Nós não sabemos quem vai manifestar ou não os sintomas, quando as pessoas vão transmitir o vírus, por isso todo mundo precisa continuar usando máscara e mantendo o distanciamento social”, concluiu.
Fontes: G1, Uol