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Racismo X Capitalismo

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Na última segunda-feira (22), o professor e jurista Silvio Almeida concedeu uma entrevista ao tradicional programa Roda Viva, da TV Cultura.

O que chama a atenção na entrevista é o fato de Silvio Almeida, um homem negro, estar sendo entrevistado por uma bancada majoritariamente negra. Um dos pontos principais da entrevista foi a questão do racismo estrutural, algo que voltou a ser pauta principal das lutas sociais pelo Brasil e pelo mundo desde o assassinato de George Floyd por um policial branco nos EUA, onde várias ondas de protestos surgiram tendo como lema o Black Lives Matters (Vidas Negras Importam). Silvio Almeida, autor do livro Racismo Estrutural, comentou vários pontos importantes da luta antirracista, mas sempre especificando: o racismo pode sim ter suas nuances, suas modificações e até mesmo ser totalmente diferente de uma região para outra, mas ele sempre será estrutural. E é justamente neste ponto que Silvio Almeida focou seus esforços.

O racismo é algo que afeta diretamente a população pobre e negra das periferias e favelas do Brasil, mas muito além disso, Silvio destaca que o racismo não é um desvio de caráter ou uma patologia clínica, o racismo é uma reprodução da relação social da estrutura em que está baseado.

Ou seja, é totalmente impensável, impossível e completamente incompatível que uma discussão em que a pauta seja o fim do racismo não esteja intrinsicamente atrelada a uma discussão onde a pauta seja o fim da estrutura que reproduz essas relações sociais que mantém o racismo na sociedade. Em outras palavras, não é possível acabar com o racismo sem que antes se acabe com o capitalismo.

Silvio Almeida ainda afirma que a discussão acerca do fim do racismo passa, antes de tudo, por uma questão política e econômica. Os espaços de poder precisam sim ser ocupados por pessoas negras, mas isso de forma alguma acaba com o racismo e, em determinados casos, pode até gerar mais intolerância.

A fala de Silvio Almeida lembra o discurso do presidente do Partido dos Panteras Negras quando ele disse que o partido não queria “trocar o capitalismo pelo capitalismo negro”, ou seja, não há lógica em ter pessoas negras em espaços de poder ou tomando espaços de capital se a estrutura em que todas essas relações estão pautadas ainda se mantém a mesma. Almeida afirma que o racismo é obra do capitalismo e precisa dele para que se possa manter. E justamente por isso é necessário que a discussão em torno do fim das relações sociais que fundamentam o racismo seja pautada, primeiramente, nas discussões em torno do fim da estrutura que as mantém.

Você pode conferir a entrevista de Silvio Almeida na íntegra no canal da TV Cultura no YouTube.

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