A base de ingredientes naturais, a barrinha é mais um passo em direção a uma rotina de cuidados mais sustentável
Natural, vegano, cruelty e plastic free sem deixar de limpar os fios, o shampoo sólido é uma alternativa prática para quem busca equilibrar economia e sustentabilidade. Atualmente, existem dois tipos de barrinhas no mercado: saponificado e não saponificado. O primeiro é semelhante a um sabonete. Segundo Valéria Rodrigues, cosmetóloga há pouco mais de dois anos, o que muda no shampoo saponificado é a adição de mais ou menos ingredientes.
Saponificados e não saponificados
“Existem óleos, manteigas e também óleos essenciais que são específicos para cada tipo de cabelo. Essa é a diferença. Você pode enriquecer mais esse shampoo”, explicou. Com limpeza suave, ele preserva a proteção natural do couro cabeludo. O não saponificado (NSP), por outro lado, utiliza o isetionato de sódio como tensoativo ao invés de óleos vegetais e manteigas. O tensoativo sintético, derivado do óleo de coco, permite o ajuste do pH, melhor para a limpeza dos fios oleosos. “Você está usando um shampoo tradicional durante muito tempo e só está ali depositando petróleo e silicone nos fios. Quando você vai usar um produto natural, demora muito [para se adaptar]”, afirmou. “Passa dois, três, quatro meses usando o shampoo saponificado e não se adapta. Então [você] opta por um não saponificado.”
Mais indicado para cabelos secos e ressecados, o shampoo saponificado, ou shampoonete, como também é conhecido, não perde em nada para os não saponificados. Para quem usa produtos “livres”, a transição é mais fácil.
“Saboaria com afeto”
Criadora da Copahyba, pequena empresa carioca de produtos naturais, artesanais e veganos que nasceu na pandemia, Valéria se apaixonou pelos cosméticos naturais ao procurar uma amiga aromaterapeuta ao enfrentar problemas para dormir após o nascimento do filho em 2019. “Eu pensei: ‘esse universo é maravilhoso, se eu não sei muita gente também não sabe”, contou.
Atualmente, existem três linhas de shampoo, de acordo com as características dos fios. Para cabelos finos, com castanha-do-brasil, lavanda e capim-limão; secos, com manteiga de karité, abacate, lavanda, cedro e hortelã-pimenta; e, o último, preferido do público, para todos os tipos, com abacate, alecrim, laranja doce e hortelã-pimenta. As vendas variam de 20 a 30 barrinhas por mês. Todos são livres de substâncias prejudiciais à saúde e podem fazer parte do low poo, técnica que restringe o uso de sulfatos, óleos minerais, silicones, parafina e petrolatos (derivados do petróleo). A expectativa é aumentar a produção. “Eu ainda estou na fase de teste para os não saponificados, justamente para dar uma opção para quem não consegue se adaptar”, explicou.
Nova experiência
Monik Chiara, 31, conheceu o shampoo sólido como cobaia. Dona de cabelos ondulados, ela se voluntariou ao descobrir que a madrinha tinha começado a produzir shampoo para cabelos finos, uma das dificuldades que sofre com as ondas. “Sempre foi uma luta para achar shampoo, condicionador, tudo para o meu cabelo”, afirmou. Já na primeira lavagem se encantou pela espuma suave, a textura do cabelo e a sensação de limpeza. No entanto, nem tudo foi fácil. Durante quase um mês de transição, sentiu o cabelo elástico na lavagem.
Como consultora e diretora da Mary Kay há seis anos, ela não pode abrir mão dos produtos industrializados, mas hoje divide a rotina de cuidados com produtos naturais. “Eu estou cada vez mais me livrando dos industrializados”, contou. Os hábitos verdes vêm ganhando espaço entre os brasileiros. Segundo o Caderno de Tendências 2019-2020, realizado pela Abihpec/Sebrae, 45% preferem comprar de marcas com responsabilidade social e ambiental.
Dois em um
A estudante Rebeca Freitas, 20, encontrou nas barrinhas benefícios para o próprio cabelo e o meio ambiente. Cacheada, ela passou pelo processo de transição em 2016, mas ainda enfrentava problemas de aceitação com o cabelo sem química. “Eu tinha que lavar ele todo dia, o tempo todo. Estava me incomodando muito, eu pensava: ‘não é possível que as pessoas se conformam com isso, não é normal’ ”, comentou.
Uma amiga trouxe a solução que combinava um cabelo mais saudável com menos impacto no meio ambiente: cosméticos sólidos e naturais. “Eu falei: ‘nossa é isso, eu vou, pelo menos, tentar. Se eu não gostar, não gostei, mas eu vou tentar”, contou. E conseguiu. Há pouco mais de um ano utilizando produtos naturais, ela deixou para trás problemas como frizz, caspa, opacidade e falta de definição. “Não quero outra vida, não consigo mais”, enfatizou. Atualmente, ela testa o shampoo restaurador da Doce&Flor.
Os preços do shampoo sólido variam entre R$25 e R$50. Mais duráveis, eles podem render até 60 lavagens. Para a estudante, o custo-benefício vai para além do bolso. “Eu não pego plástico do shampoo e jogo fora, não existe plástico”, ressaltou. Segundo a B.O.B., cada barrinha da marca pode substituir até duas embalagens plásticas de 200ml. De acordo com um estudo global publicado na revista científica Nature Sustainability, 80% do lixo encontrado nos oceanos é composto por plástico.
Outros benefícios: menos água
Além de plastic free, uma das grandes vantagens do shampoo sólido é a redução do gasto de água. Segundo um estudo comparativo das pegadas ambientais de shampoo sólido e do shampoo líquido, as barrinhas apresentam baixos níveis de água, ou seja, inferiores a 20%. A versão convencional é feita de pouco mais de 73% de água purificada. O consumidor é parte essencial na sustentabilidade: é preciso tomar cuidado para não desperdiçar água e energia no banho.