A morte de George Floyd desencadeou uma série de protestos pelos EUA e também pelo mundo. No Brasil, o assassinato de João Pedro serviu como a gota d’água pra população. Muitos desses protestos surgiram pra relembrar a importância de uma sociedade mais igualitária e menos pautada na diferença de classes.  

Sempre que um movimento de protestos como esses surge e com ele uma grande quantidade de adeptos, surge também aqueles que consideram isso um vandalismo, um terrorismo e os que tentam minimizar ou relativizar sua importância.

Black Lives Matter

O nome do movimento, Black Lives Matter, que no Brasil ficou Vidas Negras Importam,  fez com que uma velha frase voltasse à boca de alguns: Todas as vidas importam, certo?

Porém gostaria de lembrar, dizer “todas as vidas importam”, de forma a tentar desmerecer o movimento, é racismo. E eu explico o porquê. Um dos argumentos mais utilizados pra tentar minimizar a frase “Vidas Negras Importam” é justamente o do total de homicídios no Brasil. O argumento é mais ou menos o seguinte: no Brasil nós temos uma média de 50 mil homicídios por ano!

Isso é mentira? Não! Isso minimiza a luta do movimento pelas vidas negras? Muito pelo contrário, isso reforça a importância do movimento.

Brasil registra 55 mil assassinatos por ano

Esse racismo enraizado nas palavras das pessoas se deve ao fato de utilizarem o argumento do número de homicídios sem saber a origem dos dados e muito menos o “recheio” desses dados. Segundo o comunicador social e sociólogo Samuel Silva Borges, a média de assassinatos no Brasil é de 55 mil por ano, porém apenas 15% desses casos são apurados e tem um autor apontado. E isso se deve, segundo Borges, ao fato da maioria das vítimas ser negra e pobre. Na média anual de 55 mil mortes por homicídio por ano, quem mais sofre é o morador das favelas e periferias.

Borges afirma o seguinte: O sistema penal atua com estereótipos não apenas de quem seria o criminoso, mas também de quem seria a vítima. Se a vítima for negra, entra no estereótipo de bandido e naquela famosa frase “bandido matando bandido” e o caso simplesmente não é apurado.

Ou seja, casos que envolvam vítimas pobres, de baixa renda, tendem a ser menos elucidados. E também, se há uma vítima que por acaso já tenha uma ficha criminal, as chances do caso serem apurados também são baixas. E mesmo em casos onde a polícia não consegue determinar o perfil da vítima, a área de ocorrência das mortes atua como uma espécie de indicador de desempenho. Ou seja, em bairros onde a população negra é predominante, a investigação tende a ser menos eficiente[1].

O que é possível tirar disso tudo? Sim, no Brasil temos 55 mil de homicídios por ano e isso é um número assustador e preocupante. Porém não é possível utilizar esse argumento como forma de invalidar a luta das pessoas negras pela vida. Até porque, dessas 55 mil mortes anuais, a maioria das vítimas são negras, pobres, moradoras da periferia e mais expostas à violência policial e do Estado.

Vidas Negras Importam. Não deixe nenhum argumento racista fazer com que você pense o contrário.


[1] De acordo com os estudos da Doutora Cristina Zackseski sobre homicídios não apurados e sistema penal.

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