“Colecionadora de primeiras vezes”, é como tem sido chamada a carioca Anitta, que no último domingo (28/09) se apresentou no palco principal do VMA (Video Music Award), uma das premiações mais importantes da indústria, se tornando a primeira artista brasileira a ocupar esse espaço, e a primeira a ganhar em uma categoria, sendo o de “Best Latin”, que premiava o melhor clipe de música latina, com “Envolver”.

Estando em turnê no exterior, se apresentando em importantes festivais como Coachella e Rock in Rio Lisboa, Anitta traz em todos os seus shows o funk carioca, e no palco do VMA não seria diferente. Ela destacou que apresentou no palco um ritmo que “foi considerado um crime” por muitos anos e lembrou as origens dela. “Nasci e cresci numa favela do Brasil e, para aqueles que nasceram lá, nós nunca imaginaríamos que isso seria possível. Então muito obrigada!”

Após a apresentação do seu HIT “Envolver”, Anitta surpreendeu a todos ao falar o seu famoso bordão: “Vocês pensaram que eu não iria rebolar minha bunda hoje?”, iniciando sua apresentação de funk, expondo esta cultura popular brasileira para o mundo.

Assistindo a cantora se apresentar com um ritmo super contagiante, os produtores e artistas internacionais podem pensar que aquele ritmo sempre foi aceito pela sociedade brasileira, ou que é uma criação da própria Anitta. Porém a realidade é que o Funk brasileiro já foi criminalizado e subjugado pela sociedade, e teve a ajuda de diversos artistas, entre eles DJ’S e MC’s que nunca desistiram desta cultura e o moldaram para estar na posição em que se encontra atualmente.

Da criação dos DJ’s a criminalização do Estado

Chegando ao Brasil nos anos 70, o Funk estadunidense iniciou seu processo de transformação na década de 80, nas mãos dos DJ’s, em destaque o DJ Marlboro, que “abrasileiravam” o ritmo.

Neste processo de criação de letras em português, em cima de batidas americanas adaptadas, surgem os MC’s, hora com letras mais humoradas, hora tratando da dura realidade da comunidade em que viviam, ali se iniciava a possibilidade de jovens (em sua maioria negros) periféricos expressarem o que pensavam.

Historicamente, toda a produção cultural feita pela população negra no Brasil é alvo de discriminação, como foi com o samba, a capoeira, e agora com o funk.

Além do preconceito, o funk teve que vencer barreiras físicas, como em 2008 com a proibição de bailes em comunidades pacificadas, onde atitudes das UPP (Unidade de polícia pacificadora) levou a morte de pessoas, ou em 2017 que o senado rejeitou um projeto de lei que pedia a criminalização do funk, o projeto que teve 21.985 assinaturas dizia o seguinte:

“É fato e de conhecimento dos brasileiros, difundido inclusive por diversos veículos de comunicação de mídia e internet com conteúdos podre (sic) alertando a população o poder público do crime contra a criança, o menor adolescente e a família. Crime de saúde pública desta ‘falsa cultura’ denominada funk”.

Economia gerada através do Funk

Estando no seu radar de estilo musical ou não, é fato que o funk tem se tornado cada vez mais o rosto da cultura musical brasileira, o canal brasileiro no Youtube com maior número de inscritos (65,7 milhões) é do diretor e produtor musical Kondzilla, e no aplicativo de música Spotify, o gênero cresce 51% ao ano, aparecendo em segundo lugar nas listas de Download, estando atrás apenas do sertanejo.

Pesquisa divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que o funk é responsável por movimentar mais de 127 milhões de reais por ano no estado do Rio de Janeiro, a FGV contabiliza os lucros de todas as pessoas envolvidas na realização dos eventos e bailes, desde camelôs e vendedores de alimentos, até os principais artistas.

Deste modo, a apresentação da Anitta se torna um marco simbólico para a cultura brasileira, principalmente periférica, que ainda é desfalcada de grandes representações midiáticas, mas que aos poucos está ganhando seu espaço, e mostrando para toda a sociedade brasileira, que cultura popular, cultura de favela, cultura negra, são culturas.

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