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A luta de um trabalhador para conseguir aquilo que ele tem direito

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“Eu, Daniel Blake, exijo uma data para meu recurso antes que eu morra de fome e troquem a porcaria de música dos telefones.”

O filme inglês de Ken Loach intitulado “Eu, Daniel Blake”, além de ser uma carta de amor ao cinema neorrelaista do pós segunda guerra mundial, é também uma profunda reflexão e fortíssima denúncia ao sistema imposto pelo Estado.

Direito amplamente negado pelo sistema

No filme, Daniel Blake é um homem de meia idade, trabalhador do ramo da marcenaria, que acabou de perder a esposa, sofreu um infarto e foi afastado de seu trabalho por ordens médicas. Dentro dessa conjuntura, somos apresentados à face mais cruel do sistema: a luta de um trabalhador para conseguir aquilo que ele tem direito. Dessa forma, acompanhamos Daniel ao longo de sua jornada para conseguir um auxílio doença ou seguro desemprego. Dois direitos amplamente negados pelo sistema. Em uma de suas idas à repartição responsável, ele conhece a jovem Katie, desempregada, mãe de dois filhos, recém chegada a Newcastle e sem nenhum centavo no bolso. Tudo que ela precisa é de um recurso do governo para conseguir se alimentar e principalmente alimentar seus filhos. Um direito amplamente negado pelo sistema.

Ficção e realidade se encontram

O filme mostra uma realidade cinza, uma realidade que para muitos cidadãos é a única conhecida. Há inúmeras cenas em que o espectador pode se identificar com o que vem sendo mostrado e talvez essa seja a maior arma do filme: a partir de que momento a ficção deixa de ser ficção para se tornar um retrato da sociedade? Em que ponto, especificamente, podemos dizer que essa história fica somente nas telas e não ultrapassa a barreira da realidade?

Até porque, nunca vimos um direito ser amplamente negado ou protelado ao cidadão pelo Estado, certo?

Até porque, nunca vimos uma mãe deixar de comer para conseguir alimentar seus filhos, certo?

Não. O filme não é uma ficção. A obra de Ken Loach é algo primordial para entender a atual conjuntura em que vive mais da metade da população mundial. Dentro de um sistema em que o lucro está acima da vida, o que esperar de um governo que move montanhas para manter esse sistema em detrimento da saúde pública? O que esperar de um sistema que permite que crianças e idosos passem fome para poder manter um status econômico favorável aos mais ricos?

Como você pode ter percebido, eu não vim aqui trazer respostas, pois não as tenho. Eu vim questionar junto com você:

Em meio a uma crise de saúde a nível mundial onde as maiores lideranças políticas de seus respectivos países adotam um método de prevenção, o que esperar de um governo que pede para seus cidadãos pobres saírem para trabalhar em transportes públicos cada dia mais lotados e precários?

O que esperar de um governo que não dá a devida assistência aos desempregados?

Não é uma função do Estado garantir emprego e saúde de qualidade a todos?

“Eu, Daniel Blake” não é uma ficção e pode ser facilmente aplicado a atual conjuntura brasileira. Um benefício que é de direito de todo cidadão trabalhador sendo amplamente negado e protelado pelo governo federal com que intuito? Por que haverá cortes salariais de até 100% em determinadas áreas de trabalho? Quem sai ganhando com a possível morte de milhares de brasileiros e brasileiras que trabalham de sol a sol para que seus filhos não morram de fome?

Sistema traiçoeiro, cruel e desumano

O que quero dizer é que não há lógica alguma em deixar tais atitudes passarem despercebidas pela população trabalhadora. O sistema a qual o governo responde é traiçoeiro, cruel e desumano. Em inúmeras oportunidades isso foi demonstrado e sempre que há uma tentativa de mudança, esta é sufocada e reprimida. Não importa.

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