#Desmistificando – Coreia do Norte

Dentre todos os mitos que rondam o mundo, certamente aqueles que têm a Coreia do Norte como protagonista estão entre os mais famosos.

A Coreia do Norte, oficialmente República Popular Democrática da Coreia, é um país do continente asiático com uma população de aproximadamente 25 milhões de habitantes, um número bastante baixo se comparado à região sudeste do Brasil que possui cerca de 80 milhões de habitantes (concentrando apenas no estado de São Paulo metade desse número). E não é de hoje que muitas informações duvidosas e curiosas rondam o pequeno país da península coreana. Muitas dessas informações são meramente fabricadas com o intuito de desmerecer toda a história de libertação do povo coreano das amarras coloniais e também suprimir todo e qualquer exemplo válido que se possa retirar da história da Coreia.

E hoje, na estreia da coluna Desmistificando, vamos conversar um pouco sobre esse país que há muito tempo vem sendo taxado de misterioso, fechado e ditatorial.

MITO 1 – TODOS OS HOMENS DEVEM TER O MESMO CORTE DE CABELO

Talvez esse seja um dos mitos mais fáceis de se quebrar, basta procurar uma foto na internet para verificar que a informação é totalmente falsa. Tal informação foi criada para gerar naqueles que a ouvissem uma sensação de que não há liberdade de escolha na Coreia Popular, nem mesmo para escolher o seu corte de cabelo. Um detalhe: esse mito dizia que além de não poder escolher o corte de cabelo, os homens deveriam cortar exatamente igual ao modelo escolhido pelo líder da Coreia. Coitados dos carecas, de acordo com esse mito eles já estariam fuzilados.

 MITO 2 – MULHERES NÃO PODEM INGRESSAR NAS FORÇAS ARMADAS

Curiosamente, a Coreia Popular é um dos países com a maior liberdade feminina. No século XVIII o sociólogo Charles Fourier disse que era possível medir o nível de liberdade e progresso de uma sociedade analisando o nível de liberdade e de atuação das mulheres dessa sociedade, quanto mais a mulher era livre e independente mais a sociedade era próspera. E dentro dessa linha de pensamento é possível analisar a atuação feminina dentro da Guerra da Coreia. Kim Jong Suk se destaca por ter sido uma líder incansável na guerra contra a dominação japonesa nos anos de 1930 e 1940. O curioso é que ela ensinou os homens como costurar e as mulheres como atirar, participando ativamente na construção do exército coreano pós libertação (1945) sendo uma das responsáveis pelas primeiras eleições do país. Um ponto importante a se comentar aqui: uma das primeiras leis a ser votada e promulgada foi a Lei de Igualdade Sexual.

MITO 3 – O TRANSPORTE NA COREIA PRATICAMENTE NÃO EXISTE

Ainda é bem comum ouvir dizer que na Coreia Popular os meios de transporte são raros e precários e que as pessoas ainda se deslocam por meio de charretes ou a cavalo (o que não seria muito diferente do Brasil atual). A verdade é que a Coreia é um país normal, com problemas e qualidades como qualquer outro, a área rural da Coreia é semelhante a qualquer outro país do mundo e nessa área (como é comum em todos os países) o transporte é feito a cavalo ou charrete. Porém nas áreas urbanas o transporte público é de excelente qualidade e passa por reformas anuais tanto nas estações quanto nos trens e ônibus, sem que haja nenhum tipo de taxa ou imposto a mais para a população. Além disso também há táxis estatais com preços bem em conta para quem saiu atrasado de casa.

MITO 4 – A TV COREANA SÓ PASSA A CARA DO KIM JON UN O TEMPO TODO

Essa é mais uma daquelas que a gente costuma ler nas correntes de whatsapp. Tal informação foi criada para gerar a sensação de que há uma espécie de lavagem cerebral por parte da TV estatal coreana que, ao passar “o tempo todo” falas de Kim Jon Un, estaria fortalecendo a figura de “ditador” que o Marechal tem, contribuindo para o medo da população e criando assim uma sociedade alienada e temente. Mas a realidade é bem diferente disso. Não apenas a TV, mas os jornais, rádios e etc. possuem programações completas e diversas, atendendo a todos os tipos de gostos. Por exemplo, a UEFA Champions League, importante campeonato de futebol da Europa, passa na íntegra na Coreia Popular. Notícias do mundo inteiro, como o recente tufão que passou pela região sul do Brasil, possuem destaque nos telejornais. Há canais de filmes que exibem todo tipo de material, desde produções nacionais até grandes blockbusters internacionais como é o caso de Vingadores: Ultimato.

MITO 5 – NA COREIA NINGUÉM PODE ESCOLHER OS GOVERNANTES

Quem nunca ouviu essa ou “A Coreia do Norte é uma ditadura” possivelmente está vivendo errado. Essa é uma das informações falsas acerca da Coreia mais famosas de todos os tempos. É compreensível que, para aqueles que nasceram e cresceram dentro de uma democracia impopular (como é o caso do Brasil), seja um pouco difícil compreender como funciona a democracia coreana.

Mais importante do que escolher o presidente, na Coreia há a elaboração de Comitês Populares Provinciais. Esses comitês são formados por cidadãos das próprias províncias e os líderes também são escolhidos pelos moradores daquela região. Normalmente o líder do Comitê Popular é escolhido por se destacar dentro de sua comunidade por algum serviço prestado. Por exemplo, há uma província Coreana que a líder é uma gari que, recentemente, foi escolhida como candidata a deputada pelo Comitê e conseguiu ser eleita. E sim, isso mesmo, na Coreia quem escolhe quem vai se candidatar a algum cargo político são os Comitês Populares, não os partidos. Sendo assim, a representação política é infinitamente mais popular. E por falar em partidos políticos, outro mito que assombra a história norte-coreana é: “na Coreia, por ser uma ditadura, existe apenas um partido político”. Essa informação, além de ser falsa, contribui para a visão deturpada do país. Existem três partidos na Coreia Popular e todos eles possuem representação no parlamento, além também de existir a possibilidade ser um político independente (sem filiação partidária). E também não há só um nome para se escolher, como normalmente é divulgado. As eleições para deputado de uma província contam com cerca de 600 candidatos (todos escolhidos pelos Comitês Populares) onde os dois mais votados se elegem como deputados provinciais.