Voltemos onde tudo começou para entendermos a atualidade
Em 1500 tropas portuguesas lideradas por Pedro Álvares Cabral desembarcaram de maneira oficial no território americano que mais tarde chamariam de Brasil. Entre 1500 e 1532 não houve de fato uma colonização das terras, apenas a exploração da madeira chamada de Pau-Brasil e operações de manutenção das terras. A partir de 1534, visto a necessidade de uma instalação mais efetiva do governo Português no Brasil, foi criado o sistema de capitanias hereditárias. Tal sistema era baseado na divisão territorial em lotes de terras que eram doados a nobres portugueses que tinham como uma das responsabilidades fazer prosperar aquela terra. E como o próprio nome já diz, elas eram hereditárias.
Monopólio de terras, latifundiários e poder político
O Brasil, esse imenso pedaço de terra do tamanho de um continente, foi dividido em 14 lotes de terras e doados a 12 pessoas. 12 pessoas que tinham o objetivo de fazer prosperar a capitania e de intensificar a colonização portuguesa. Por mais que digam o contrário, muito dos nossos problemas surgiram justamente com as capitanias hereditárias: massacre aos povos indígenas, escravização da população preta vinda da África, marginalização dos raros trabalhadores assalariados que existiam nessa época e etc. Uma das situações mais graves geradas pelas divisão territorial em capitanias hereditárias foi o monopólio de terras por parte dos “donos” das capitanias. Tal monopólio gerou os famosos e nada queridos latifundiários. Um latifúndio é uma grande extensão de terra fértil, agrícola que pertence exclusivamente a uma pessoa, uma família ou uma empresa que detém o monopólio de toda a produção. Os latifundiários com o passar do tempo obtiveram também um grande poder político, logo muitas das novas leis que surgiram tinham por objetivo manter a situação privilegiada e criminosa dos latifúndios.
MST é um dos movimentos sociais mais ativos a distribuição de comida e cestas básicas para família na pandemia
Tais privilégios existem até os dias de hoje, porém nas décadas de 1970 e 1980, diante da ditadura cívico-militar no Brasil e a retomada de uma política de manutenção dos privilégios latifundiários, surge o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) que se diz um herdeiro ideológico dos movimentos camponeses do Brasil dos anos 1950 e 60. O MST, até hoje, é um grande alvo de notícias falsas e também sofre com a desinformação daqueles que não procuram saber de sua história. O Movimento dos Trabalhadores sem Terra luta pela reforma agrária brasileira, ou seja, luta para que aquele sistema de capitanias hereditárias surgido em 1534 seja oficial e definitivamente revogado. O movimento luta pela distribuição de terras para que os trabalhadores possam tornar terras abandonadas pelo Estado em terras produtivas. Muito se fala sobre a “invasão” de terras por parte do MST e sempre é vista de forma negativa qualquer atuação do movimento. Porém, o MST é um dos movimentos sociais mais ativos a distribuição de comida e cestas básicas para famílias que estão sofrendo com o coronavírus: 5 toneladas de alimentos foram doadas para cerca de 500 famílias pelo Brasil. Também é do MST a iniciativa de comercialização de cestas agroecológicas no Alto Sertão de Alagoas. Esta iniciativa tem como objetivo a produção de alimentos saudáveis, produzidos nos assentamentos do MST, e a distribuição desses alimentos em forma de cestas para as cidades próximas. Dessa forma, há alimento saudável, barato e de fácil acesso à população e renda para o movimento.
Mesmo sem a reforma agrária brasileira, que é algo extremamente necessário para que a desigualdade seja diminuída em nosso país, o MST consegue fazer um excelente trabalho em prol da sociedade e exemplos assim merecem sempre serem mostrados para a população.