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Novo Coronavírus evidencia o regime de necropolítica brasileiro

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Quando o novo coronavírus chegou ao Brasil, foram registrados casos de suspeita em diversos núcleos sociais. Desde empregadas domésticas e porteiros até a comitiva do presidente da república. Porém só um lado teve o direito de saber o que estava acontecendo com seu corpo, o outro lado precisou morrer com a dúvida. Não é preciso fazer um grande exercício de reflexão pra saber qual lado sai em desvantagem na luta contra a nova pandemia. O lado que sai derrotado, muitas vezes sem sequer saber o porquê de estar perdendo,  tem um elemento em comum que une seus integrantes: eles são pobres. E isso evidencia o regime de necropolítica brasileiro.

O que seria Necropolítica

Necropolítica, segundo o filósofo Achille Mbembe, é basicamente o poder que o Estado tem de decidir quem vai morrer e quem vai viver. E, ainda de acordo com Mbembe, a necropolítica está atrelada a visão de utilidade do ser humano muito elaborada no sistema capitalista: a partir do momento em que a  pessoa deixar de ser  útil para gerar lucro a determinada camada social, ela é categoricamente descartada.

Possível descarte de idosos?

Além disso há também a lógica de reposição da mão de obra: é importante manter determinada classe sob domínio para que tal classe sempre dê bons frutos ao sistema vigente, mesmo que para isso seja necessário o descarte de uma certa quantidade de idosos para que a máquina continue funcionando. Como é o caso da Itália, país com o maior número de casos registrados até então, onde a necropolítica, aparentemente, já está sendo planejada visto que o governo tem em mente deixar pacientes com mais de 80 anos com suspeita de coronavírus morrerem.

Realidade brasileira

No Brasil a necropolítica é escancarada quando nos deparamos com o fato de moradores de favelas estarem com o acesso à água praticamente negado pelas autoridades, e sabendo que os dois casos de morte por suspeita de coronavírus no Brasil foram de pessoas infectadas por transmissão local, o cálculo final fica fácil de resolver. Basta lembrar que a Peste Negra, pandemia que matou cerca de 200 milhões de pessoas no século XIV, espalhou-se principalmente por conta da falta de saneamento na época. Em 1918, o Brasil sofreu também nas mãos da Gripe Espanhola. Considerada até hoje como a pior pandemia da história do país, a Gripe Espanhola também se espalhou rapidamente por conta da precarização dos cuidados mínimos de higiene, vitimando desde moradores de cortiços (os chamados Cara-de-Porco)  até o então presidente da república Rodrigues Alves.

O irmão de uma das vítimas fatais,  um porteiro aposentado na faixa dos 60 anos, teve atendimento precário na unidade de saúde de sua região. Segundo seu relato, fizeram apenas um raio-x do pulmão e o mandaram pra casa. Quando ele pediu para ser testado a resposta foi: Não temos como fazer o exame. Enquanto isso, temos casos de algumas personalidades indo para o terceiro exame seguido…

Destino do pobre

A alguns brasileiros é negado o acesso à água, é negado o direito de fazer o teste, é negado o direito de se proteger, é negado o direito a uma saúde digna, é negado o direito a uma segurança pública de qualidade. E o que esses brasileiros têm em comum?  Eles são pobres.

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