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Que ordem você obedece para conseguir o nosso progresso?

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Pouco divulgado entre a grande massa de trabalhadores e trabalhadores pelo nosso imenso país, as origens que levaram ao lema da nossa bandeira nacional é bastante bonito, poético, simples e também, ao mesmo tempo, perigoso.

Amor por princípio, ordem por base e progresso por fim

Apesar de não ser o primeiro a usar o termo “Positivismo”, Augusto Comte, um politécnico francês muito ovacionado nas linhas filosóficas e sociológicas, foi o primeiro a utilizar o termo como definição para a sua linha de estudos que, mais tarde, elevaria a disciplina História ao status de ciência. De maneira geral, o positivismo é uma corrente filosófica que prega a ciência como o único guia moral, espiritual, individual e geral da humanidade. Deste modo, a ciência seria uma espécie de religião dos homens, sendo a única religião possível. Dentro da lógica positivista de Auguste Comte, as ciências sociais deveriam seguir a mesma lógica e raciocínio das ciências naturais: tudo segue uma constante e rígida regra de início, meio e fim. Por exemplo: as flores nascem, florescem, secam e morrem. Tudo seguindo uma regra imutável. Para os positivistas, esta seria também a regra aplicável ao estudo da sociedade, tendo como base o lema maior do positivismo “ L’amour pour príncipe, et l’ordre pour base; le progrès pour but.”, ou seja: O amor por princípio, a ordem por base e progresso por fim (conseguiu achar de onde veio o lema da nossa bandeira?).

Então você, caro leitor, pode estar se perguntando “por que um lema tão bonito, forte e poderoso poderia vir em algum momento a ser classificado como perigoso?

Explico-me melhor agora.

Positivismo aceita tudo o que acontece na humanidade como algo natural

O positivismo é uma vertente filosófica importantíssima a muitas ciências, não apenas à História. Foi a partir do positivismo que o status de ciência foi inferido à disciplinas antes deixadas de lado por governos e instituições que hoje em dia não vivem sem elas. O maior problema é que o positivismo aceita tudo o que acontece na humanidade como algo natural. Qualquer que venha a ser o problema enfrentado pela humanidade, a lógica positivista encara como parte do “progresso” da sociedade, seguindo a lógica de que as ciências sociais (que estudam a sociedade e suas modificações) deveriam seguir os mesmo preceitos das ciências naturais (que estudam fenômenos da natureza), quando na verdade este é um pensamento equivocado. A sociedade e suas transformações não seguem uma lógica, não seguem uma regra, não seguem um código previamente estipulado por algum ser superior. A humanidade segue seu próprio curso: altamente mutável, altamente maleável.

Você já parou pra pensar nisso?

Gostaria de fazer um breve exercício de reflexão com você. Seguindo a lógica positivista que empresta o lema a nossa bandeira nacional de que as transformações na sociedade seguem um curso natural, imutável e de que tudo que ocorre seria um passo a mais para o progresso da humanidade, seria totalmente possível admitir a exclusão de determinados povos considerados ultrapassados ou inferiores. Certo?

Bem, essa foi a lógica usada por Adolf Hitler e sua política de arianismo que levou a morte de aproximadamente 6 milhões de pessoas.

Essa também foi a lógica usada pela igreja católica entre os séculos XV e XIX (aproximadamente 400 anos!) para legitimar a escravidão, exclusão e extermínio do povo africano.

As duas lógicas seguem a regra de que, povos inferiores, ultrapassados, não são dignos de amor, não possuem ordem e nem servem para o progresso da humanidade.

Dentro da visão positivista, aceitar tudo que ocorre como um processo natural para o progresso da humanidade, seria olhar para esses dois casos históricos e dizer “ah, tudo bem. Muitas pessoas morreram, muitas pessoas foram escravizadas, muitas pessoas até hoje sofrem com as consequências da não-inclusão social. Mas isso tudo é natural, necessário para o progresso da humanidade”.

A igreja católica, no século XV, disse que escravidão era necessária, boa e legítima para a humanidade.

Adolf Hitler, na década de 1930, disse que era necessário isolar, escravizar e aniquilar judeus para o progresso da raça ariana.     

Tudo isso ficou no passado. Certo?

“Nós não podemos parar! Eu sei que 6 ou 7 mil vão morrer, nós não podemos evitar, mas a economia brasileira não pode parar por conta disso.” Junior Durski, dono da hamburgueria Madero. 2020.

A pergunta que fica é: que ordem você obedece para conseguir o nosso progresso?

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